Depois de oito dias seguidos, os pulmões do Poeta e de Espelho
precisavam do ar puro, mas não tinham mais tempo. Precisavam voltar. Espelho
para as rezas confusas da sua mãe e do povo daquele lugar. Poeta tinha que
seguir o caminho em busca da fazenda de Samburá.
Na estrada, o carro seguia vagarosamente: na mente do Poeta, uma nostalgia
pré-existente acariciava-lhe o peito amarelo-saudade por causa de Espelho.
O celular toca.
- Olá! - Poeta? Aqui é Fred Samburá! Você chega quando?
- Em poucas horas. Chego para o almoço.
- Poeta, você chega para o almoço de hoje?
- Sim... Para o almoço de hoje! – responde, rindo com alegria, o Poeta.
O celular toca outra vez. Um número nunca visto antes. O Poeta abre a
janela de seu veículo, e lança o celular com a força de muitas raivas
guardadas.
- Por que você fez isso? – Grita, apavorada, Espelho. - Poeta, você é um louco.
Espelho e Poeta faziam o silêncio mais gritante que poderiam imaginar. O tempo
e o carro deslizavam. O veículo foi perdendo velocidade. E foi parando,
parando, até chegar em frente ao boteco do homem gordo de traseiro estreito.
Antes de Espelho sair, o Poeta segurou-a pelas mãos.
- Por que seu nome é Espelho?
- Porque, em mim, você vê a si mesmo.
- Espelho, espere!
- Diga depressa! Eu tenho que ir. Tenho minhas dores para cuidar. Cuide das
suas. Encontre Samburá.
- Espelho, eu sou louco?
- Muito pouco... É loucura que não se percebe.
E Poeta seguiu pela estrada, rumo à fazenda de Fred Samburá.
Li a historia de traz pra frente e a sensação é muito agradavel.O que se imaginava de um personagem vai mudando aos poucos, muito legal :)
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