Ao longo do caminho, vindo de encontro ao Poeta, as mercenárias mulheres de preto choravam a alma de alguém. Parou em sinal de respeito, e esperou o cortejo passar. O caixão estava aberto.
O Poeta perguntou quem era o defunto a um garoto que seguia à parte do funeral:
- Quem era o velho?
- Seu Ribamar. Trabalhava aqui há pouco tempo, era muito religioso, estava doente da cabeça e morreu ontem. - respondeu o garoto alegre e excitado por acompanhar um funeral.
O Poeta notou o rosto cinza-amarelo e a expressão fechada dos mortos-tristes. Pensou na tristeza do morto quando em vida. Parou o carro, desceu e acompanhou o funeral.
O choro e as músicas melancólicas o fizeram chorar.
Logo em seguida, uma das mulheres de preto, provavelmente a chefe das carpideiras, disse-lhe bem perto do ouvido e apertando com força o braço esquerdo do Poeta.
- Pode chorar, mas não venha cobrar as suas lágrimas depois. Somos muitas e o dinheiro é pouco. Sem entender, o Poeta quis rir, e sorriu com os olhos. Olhou para o cadáver já esverdeado por causa do Sol.
Em meio aos curiosos, uma menina de sorriso lindo
chamou a atenção do Poeta. Ela ria com outras garotas e faziam fuxicos em meio
ao cortejo.
O mesmo garoto que foi abordado pelo Poeta, há
poucos minutos, reapareceu.
- Garoto, quem é aquela menina do sorriso lindo? –
perguntou o Poeta.
- Ah!, é minha prima. Seu nome é Ipsílon! - respondeu o garoto.
- Quê?
- Ah!, é minha prima. Seu nome é Ipsílon! - respondeu o garoto.
- Quê?
- 'Quê' não! Ipsílon...
- Sua prima se chama Ipsílon? - perguntou o Poeta
mais descrente do que espantado.
- Sim, seu moço, e quem é o senhor?
- Sou amigo de Samburá. Venho passar uns dias aqui,
e agora vou almoçar com ele, em sua casa. Onde poderei ver Ipsílon outra vez?
- À noite. Ela mora na casa do seu Samburá também, respondeu, e saiu.
- À noite. Ela mora na casa do seu Samburá também, respondeu, e saiu.
Olhou, o Poeta, mais uma vez, para o morto. Notou que Ribamar
era um cadáver verde-esbranquiçado que lhe sorria. Olhou para os lados, pensou
em desmaiar. Voltou os olhos para Ribamar que lhe continuava rindo.
O troller do Poeta nunca seguiu um caminho mais rápido. E feliz. E admirado.
- Essa é boa! Ribamar é um morto que sorriu pra mim. - Pensou o Poeta ainda desacostumado com as surpresas da vida.
O troller do Poeta nunca seguiu um caminho mais rápido. E feliz. E admirado.
- Essa é boa! Ribamar é um morto que sorriu pra mim. - Pensou o Poeta ainda desacostumado com as surpresas da vida.
Gostei do texto, criativo e descontraído.O poeta ficou tão satisfeito com a possibilidade de ver novamente a Ipsilon que ate pode ver um sorriso vindo do morto.
ResponderExcluir