A maioria parecia gado fraco faminto por água esperando mais da morte do que da vida. E a estes, a presença sacra de um Deus parecia tão distante e tão presente que tornaria tonto um bicho agnóstico.
Um cheiro de banha queimada saía da cozinha, e uma fumaça grossa como sal virgem ganhava o espaço infinito. Um cachorro latiu. Uma velha gorda e suada surgiu com uma panela de bronze sólida, colocando-a sobre a mesa que era tão grande que ia até ali de tão distante. Cabiam todas as pessoas que Fred Samburá desejasse convidar. Mas naquele instante, bastariam ele e o Poeta.
A velha gorda, depois de servi-los, gritava e batia palmas, desorganizando a multidão, tangendo dali os miseráveis para que pudessem comer em outro lugar. A velha gorda tinha o olhar rosado e dócil, acendeu um cachimbo de fumo forte e vil, olhou para o Poeta e sorriu. O carinho da velha fez o Poeta suar de nojo e de emoção; a feição lhe era familiar.
- Essa é minha irmã, Poeta! Chama-se Ême. - disse Fred.
- Ême!? - Sim. Ême. Ela é filha do primeiro casamento de papai, e tem exatamente trinta anos a mais do que eu, Poeta - completou Fred.
- Entendo... - o Poeta já ligava o olhar carinhoso de Ême com o sorriso de Ípsilon.
- E onde estão os outros que não vêm almoçar? - perguntou pensando em Ípsilon, que deveria estar ali em qualquer lugar.
- Esse almoço é nosso, amigo Poeta. Nosso!
- Obrigado!
- No jantar, acrescentaremos Ana, Ême, Ípsilon e Teodoro.
- Ípsilon e Teodoro? Eu não os conheço. Afirmou disfarçando e sorrindo sobre Ípsilon, como só os poetas sabem mentir.
- Ípsilon é minha sobrinha; Teodoro é o cachorro da casa.
E riram mais do que se alimentavam. Ali, naquele instante, o espírito do humor era o prato principal, e deveria ser devorado até o fim, pois a alegria tem alma breve. Bem breve.
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