sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O PIOR TIPO DE CENSURA ESTÁ AQUI

Leia isso:

"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado". [Paulo Francis]

Agora meu texto:

Lamentavelmente os jornalista vivemos, todos os dias, como quem pisamos em ovos: uns com os outros, com os veículos, com a audiência/leitores/ouvintes. Ou com os clientes/assessorados.

Vejo isso como um perigo. Jornalista tem o dever de informar, com senso, claro, mas informar com exatidão. A regrinha básica do feijão com arroz da reportagem é apurar e checar.
Quando esta regrinha passa a ser cheia de melindres, ou seja, será que isso vai incomodar fulano ou beltrano, é perigoso, pois as investigações passam a não acontecer, e o produto jornalístico fica comprometido. Não que isso aconteça com os veículos daqui do Brasil. Não é este o caso, pois casa veículo possui sua linha editorial,e ela precisa ser seguida. É um fato, eu concordo e defendo. Não há hipocrisia.

O alerta crítico que faço é em nível pessoal mesmo, e deve ser intransferível. É para cada um de nós, e o primeiro olho a ler cada mal traçada linha desta é o meu. O alerta também serve para mim (e como serve!).

Quando não somos capazes de nadar contra a corrente, ou questionar alguma coisa diferente em uma mesa de bar, onde, tecnicamente, estão os amigos os aqueles colegas mais próximos, alguma coisa vai errada.

Não dá para lutar contra a censura do governo, do veículo, do patrão, dos colegas, se, antes, não conseguimos combater a auto-censura.

Entendo a auto-censura como um câncer pernicioso e altamente devasso que é capaz de infectar cada centímetro quadrado do cérebro do jornalista, e mais, seu poder é devastador, pois é um tipo de câncer contagioso.

Ora, o jornalista que sofre deste mal, mesmo sem saber, acaba contaminando seus pares, não por maldade, mas muitas vezes por acreditar piamente estar fazendo o sumo bem. Mas não está.
Será que precisamos de tanta diplomacia assim?

Sempre que vejo alguém levantar algum tópico dito “polêmico” entre os colegas, não falta quem o alerte sobre os perigos de abordar certos assuntos. Percebo que algumas searas são sumariamente censuradas pelos olhares, pelas curvaturas das sobrancelhas, pelo antigo hábito de mudar de assunto.

E assim, quem insiste em continuar levantando certos temas que estão no Index do Jornalismo corre o risco de parar numa fogueira virtual. Digo virtual porque o condenado ganha rótulos ou conceitos que não consegue livrar-se, ou se consegue, só com muita dificuldade, e com muito, muito tempo.

Exemplo simples: fiz e faço minhas críticas ao petê. Ao levantar meus questionamentos sobre o Partido dos Trabalhadores, levo o rótulo de “filiado ao PSDB”, fato que nunca fui nem quis.

E quando construí minhas críticas contra o PSDB, por outro lado sou chamado de jornalista petista.

Eu não posso simplesmente exercer meu papel de cidadão e criticar um ou outro, ou os dois, ou elogiar os dois, como já fiz diversas vezes?

E por falar em “crítica”, sinto falta do jornalismo crítico. Confundem criticar com falar mal. Não tem nada a ver uma coisa com outra. E passam aqui de um extremo ao outro, tanto que fizeram (sujeito oculto mesmo) um blog (emonce), que tem o papel principal de falar mal dos jornalistas.

Eu não falo mal de ninguém. Ao contrário, acredito que aqui no Ceará tem muitos bons profissionais, que cortam na carne todo dia para dar o melhor de si dentro de tantas limitações. Em todos os veículos.

Precisamos sim de críticas, de sinais de alertas, pois nem um Sindicato que defenda e una a categoria nós temos (pelo menos por enquanto).

Leia de novo. Faço minhas as palavras de Paulo Francis:

"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado".

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